quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

O berimbau


Hoje é assim!
Quem comanda o ritual na roda de Capoeira é o Berimbau, instrumento milenar formado pela cabaça um arame de aço e uma verga de madeira.
Como diz a cantiga: “O que é Berimbau? A cabaça um arame um pedeço de Pau!
O berimbau é tido por nós brasileiros como a simbolização da capoeira, se vemos alguém carregando um berimbau logo pensamos, lá vai o capoeira. Assim como quando escutamos o tim tim tim tom tom percutido pela baqueta do tocador sobre o arame do berimbau associamos imediatamente, é capoeira. Além disso provavelmente a figura do berimbau é o souvenir mais vendido a turistas que vão a Bahia, seja em forma de imã de geladeira, chaveiro ou qualquer outro penduricalho.
Mas nem sempre foi assim, nem sempre o berimbau esteve associado a Capoeira, nem sempre berimbau foi a cabaça um arame e um pedaço de pau e nem sempre a cabaça um arame e um pedaço de pau foi chamado de berimbau.
Existem algumas lendas africanas que dão conta do surgimento do Berimbau, destaco em síntese duas delas pelo misticismo e pela beleza dos contos.
 A primeira lenda trata de uma menina radiante dona de uma voz encantadora que se faz adorar por todos que a conhecem. Certa vez a moça recebe a incumbência de buscar água no riacho. Assim que chega ao local e se abaixa para encher os potes com água recebe uma forte pancada por trás morrendo ali mesmo. Certos da falta que a menina faria principalmente por sua voz encantadora, os Deuses transformam seu corpo em uma verga de madeira, os membros em uma corda e a cabeça em uma cabaça. Daí surge o Berimbau.
A Lenda de Hungu também é uma lenda popular africana carregada de misticismo. O conto narra a história de uma tribo que se desloca de seu lugar de origem em busca de água devido a secagem do rio local. No caminho uma mulher integrante da tribo que carregava um menino no colo caiu esgotada pelos percalços do trajeto. Como de costume a época ela foi deixada para trás pela tribo, e seu filho arrancado de seus braços, levado adiante na jornada junto aos outros integrantes. Essa mulher chorou tanto a falta de seu filho que o rio voltou a encher rapidamente; Suas duas últimas lagrimas viraram peixes que percorreram o rio e chegaram até seu filho para servi-lo de alimento. Assim, o menino conseguiu se desvincilhar dos seus pares tribais e voltar léguas mata a dentro para resgatar a mãe. Quando o garoto chega ao local encontra a mãe já desfalecida, os integrantes da tribo que seguiram o menino dão por matar a mulher com uma paulada na cabeça, e assim o fizeram. O menino cresce, se afasta da tribo e segue sua vida, mas já idoso resolve voltar ao local onde tudo aconteceu. Lá encontra o crânio da mãe, a suas vestes em fiapos, os brincos e o pedaço de pau usado para matá-la. Intuitivamente o homem fixa o crânio da mãe ao pedaço de madeira, usa os fios de suas vestes para fazer um cordão e liga-lo as duas extremidades do pedaço de madeira, e com o brinco em contato com cordão produz sons, que de imediato o homem identifica como as vozes da sua mãe, lhe dando forças para seguir em seu caminho. Surge ai o Hungu instrumento musical considerado de cura em algumas religiões africanas.
Deixando as lendas de lado, a provável história do berimbau começa entre 15.000 e 20.000 anos A.C com o princípio do arco musical. Pinturas rupestres dessa época encontradas em cavernas no sudeste da França, mostram a utilização do arco musical.  Acredita-se que arcos utilizados em um primeiro momento como arma para lançar flechas passou a servir de instrumento musical. Ainda mais rudimentar que o já simples berimbau de hoje, esses arcos eram percutidos com pedaços de pau ao qual damos o nome de baquetas hoje, e a caixa de ressonância era própria boca do tocador.
O arco musical foi e ainda é encontrado em diferentes tamanhos, formatos e configurações. Arcos mais angulados, com divisões em seu próprio arco, e até grandes galhos ainda presos a arvores tendo grandes buracos no chão que serviriam como caixa de ressonância foram relatados. Vale lembrar que esse princípio simples que deu origem ao berimbau influenciou a criação de diversos instrumentos musicais, entre eles a Harpa, o Alaúde e a Citara Indiana.











Na Capoeira o berimbau não se faz presente em um primeiro momento. A escassez de documentos da época dificultam em precisar quando e como exatamente o Berimbau passou a fazer parte da Capoeira. Acredito que a introdução desse instrumento tenha se dado na segunda metade do século XIX com o processo de ritualização da capoeira que se deu principalmente se não exclusivamente na Bahia, já que os outros grandes centros onde a capoeira era evidente, leia-se Rio de Janeiro e Pernambuco, tinham a capoeira em um outro contexto.
Embora os folguedos musicados com a presença de instrumentos fossem comuns a época, e generalizados ao nome de Batuque pelos brancos, a pouquíssima documentação que temos não mostra o Berimbau integrando a capoeira em um primeiro momento, exemplo disso são essas duas telas da década de trinta do século XIX retratadas pelo alemão Johann Moritz Rugendas. Nelas não notamos a presença do Berimbau e sim de um tambor que o tocador fica sentado em cima.




































Trazidos pelos negros escravizados no Brasil o berimbau antes de ser conhecido exclusivamente por esse nome tinha vários outros como; Rucumbo, Aricongo, Urucungo, Oricungo, Mutungo, Macungo, Gunga. Em algumas religiões africanas era conhecido como Hungu (como abordamos na lenda acima). Já em Moçambique é chamado de Xitende enquanto que em Angola de onde veio a grande maioria dos negros escravizados para o Brasil era chamado de M´bolumbumba.

As hipóteses para o nome Berimbau vem de M´birimbau termo vindo do quimbundo ou ainda, Bilimbano palavra de origem mandinga. Há quem diga ainda que o termo Berimbau é de origem Ibérica, que no dicionário real da academia espanhola é definido como pequeno instrumento de arame ou madeira com uma lâmina fixa fina ao meio.
Quanto a introdução do Berimbau na Capoeira, uma das hipóteses tratam os escravos mercadores como protagonistas desse acontecimento. Segundo alguns registros, essa categoria de escravos faziam o trabalho de vendedores ambulantes para os seus senhores e usavam o Berimbau juntamente com o anuncio de seus produtos. Alguma coisa do tipo: “Olha a Carne”, “Farinha” somando-se ao som do berimbau de fundo.


A questão é que quando esses escravos faziam o agito para venda de seus produtos em locais com grande concentração de pessoas, enormes rodas se formavam não só pelos produtos mas pela simples curiosidade em saber o que estava acontecendo ali. O som do berimbau capitava a atenção das pessoas. Daí, essa polarização causada pelo berimbau na atuação dos escravos mercadores transporta-se para capoeira.
Essa é uma das hipóteses parar a introdução do berimbau na capoeira, eu particularmente acredito que essa introdução se deu gradualmente ao longo do tempo. Pode até ser que escravos mercadores tenham favorecido essa introdução. A questão é que os negros escravizados no Brasil, principalmente os de origem angolana eram dados a folguedos e brincadeiras ritmadas, e diversas dessas manifestações eram musicadas por sons de palmas e vários outros instrumentos, algo do tipo, o que está a mão para ser tocado nesse momento. Dentro desse contexto, diversos instrumentos musicais aparecem nesses folguedos popularizados pelos negros como a viola, pandeiro, tambores diversos, e o berimbau.
O inglês radicado no Brasil Henry Koster que viria a se tornar senhor de engenho, cita pelos idos 1836 o berimbau e outros instrumentos em folguedos populares praticados pelos negros:
“Os negros livres também dançavam, mas se limitavam a pedir licença e sua festa decorria diante de uma das suas choupanas. As danças lembravam as dos negros africanos. O círculo se fechava e o tocador de viola sentava-se num dos cantos, e começava uma simples toada, acompanhada por algumas canções favoritas, repetindo o refrão, e frequentemente um dos versos era improvisado e continha alusões obscenas. Um homem ia para o centro da roda e dançava minutos, tomando atitudes lascivas, até que escolhia uma mulher, que avançava, repetindo os meneios não menos indecentes, e esse divertimento durava, às vezes, até o amanhecer. Os escravos igualmente pediam permissão para suas danças. Os instrumentos musicais eram extremamente rudes. Um deles é uma espécie de tambor, formado de uma pele de carneiro, estendida sobre um tronco oco de árvore. O outro é um grande arco, com uma corda tendo uma meia quenga de coco no meio, ou uma pequena cabaça amarrada. Colocam-na contra o abdômen e tocam a corda com o dedo ou com um pedacinho de pau. Quando dois dias santos se sucediam ininterruptamente, os escravos continuavam a algazarra até a madrugada.”
Outra hipótese comumente citada para introdução do Berimbau na Capoeira, é sempre que havia “vadiação”, desafios, ou qualquer outra atividade ligada a capoeira, uma pessoa destacada do grupo ficava despretensiosamente tocando um Berimbau. Quando essa avistava a polícia ou qualquer outra ameaça, fazia um toque especifico para alertar os companheiros. Conhecemos esse toque hoje por nome de cavalaria, uma analogia a cavalaria de polícia, mas já ouvi antigos mestres chamando esse toque de “aviso”.
Gosto desta passagem, pois não acredito que durante a época da grande repressão a capoeira, que se deu principalmente de 1889 até os anos de 1930, qualquer praticante independente do contexto faria alarde para ser identificado. A capoeira na época era crime com pena de 2 a 6 meses de cadeia com incrementos em pena dobrada para líderes de bandos ou maltas.
Assim, acredito que diversos foram os fatores ao longo da história que tornaram o berimbau o principal instrumento na roda de capoeira e não um caso isolado.Sem dúvida outras passagens, hipóteses e fatos históricos devem ser considerados a respeito da introdução do berimbau na capoeira. Acredito que quão maior forem essas contribuições, em diversidade e aprofundamento, chegaremos ao um denominador mais refinado em torno de nossas raízes históricas.
Hoje no Brasil, o berimbau deixou de ser um instrumento exclusivamente pertencente a capoeira, outros segmentos de nossa cultura, vêm se apropriando do berimbau de diferentes maneiras. O campo música popular brasileira tem explorado já há algum tempo o berimbau em arranjos musicais.
Desde a década de 70, Naná Vasconcelos um dos percussionistas de maior renome do nosso país, tem usado o berimbau em suas apresentações. Dentre vários percussionistas que se apropriam do berimbau em suas performances, destaco Dinho Nascimento, que ganhou notoriedade com o Berimbau Blues, envenenando o berimbau com arranjos pra lá de exóticos e tirando uma levada de blues autêntica desse simples instrumento.

Termino por aqui o primeiro post desse blog, que espero que tenha uma levada próspera!
Abraço a todos!

P.S Ainda não sei muito bem como utilizar da melhor forma as ferramentas do blogger. Prometo que me esforçarei para melhorar!

Um comentário:

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